domingo, 29 de novembro de 2009

Prelúdio



Não me lembro muito bem das imagens, mas a sensação da espada cortando a carne e os ossos ainda permanece nítida em minha memória. Não me lembro dos corpos caindo, mas ao fechar os olhos ainda consigo visualizar minhas vestes se tornando negras ao ficarem encharcadas de sangue e aquela sensação do liquido viscoso penetrando por entre meus dedos ainda se faz presente.

Não me lembro de quando chegou, mas ele estava lá, parado na escuridão, observando, podia sentir sua presença e pude ver parte de seu rosto e perceber um sorriso que fora dirigido a mim quando a luz da lua tocou sua face, seus lábios e abriram lentamente e as palavras proferidas por ele, suas promessas, ainda ecoam na minha mente. ”Alimente teu ódio” me disse, “Odeie esses malditos cruzados que dilacerastes, não deixe espaço para o arrependimento brotar. Odeie como eu os odeio” sussurrava sorrindo ao pé do meu ouvido, não sabia quando ele havia se aproximado, mas ele estava lá, atrás de mim sussurrando levemente em meu ouvido fazendo todos os pelos de meu corpo arrepiar, e tudo que eu via a frente havia se tornado um borrão vermelho banhado pela luz da lua.

O vermelho tingia aquela terra que proclamavam de Deus, mas apenas demônios habitavam, anjos não pisariam em tal solo. “Dê-me teu sangue e eu lhe darei o poder e o conhecimento para que mate a todos” voltou a sussurrar em meu ouvido. “falas como o diabo.” respondi arrancando uma risada carregada de escárnio enquanto se posicionava a minha frente deixando que eu visse aquelas irís vermelhas que habitavam seus olhos e o sorriso animalesco que dançava em seus lábios. “O diabo pede tua alma, não teu sangue.” Seu sorriso aumentou “ Um pacto com ele implica em um prazo e em morte ao final, enquanto eu lhe ofereço a vida”

Ele me encarou, pude sentir seus olhos atravessarem minha alma e descobrir segredos que eu desconhecia. Sua mão se ergueu suavemente para em seguida tocar minha face com seus dedos frios limpando o sangue que havia ali depositado para em seguida levá-los a boca sorvendo os resquícios escarlates. “É realmente impressionante que não tenhas tido nenhum arranhão ao matá-los.” Um sorriso surgiu novamente em seus lábios, carregados de uma estranha felicidade dessa vez. Franzi levemente o cenho fitando-o. “Perder tamanho talento seria vergonhoso, seria um desperdício, um erro irreparável” Continuou achando graça da minha reação ao escutar aquelas palavras. “Embora sejas ainda uma pedra que necessita de lapidação, teu talento é notável. Olhe a beleza que você trouxe ao lugar” Aponta sorrindo para a paisagem sangrenta, para então acariciar lentamente meu rosto com um semblante sério se aproximando lentamente de meu pescoço. ”vamos” falou passando a ponta de seu nariz em meu pescoço, “deixe-me torná-la meu diamante de sangue” sussurrou em meu ouvido antes de suas presas afundarem no meu pescoço fazendo-me arregalar os olhos em surpresa antes de mergulhar na escuridão.

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